sexta-feira, 6 de maio de 2011

Padre Carlos


Faleceu Padre Carlos Galamba, 'director' da Obra da Rua logo após a morte de Padre Américo. Jovem engenheiro nos anos 50, podia ter tido uma carreira de sucesso mas escolheu seguir o exemplo de Pai Américo e servir os mais pobres.

A Obra da Rua ficou mais pobre, a Igreja ficou mais pobre, nós, gaiatos, ficamos mais órfãos...

Como ‘gaiato’, orgulhoso do meu humilde percurso pessoal e profissional, permitam-me deixar um modesto testemunho sobre Padre Carlos, um homem inteligente e culto, íntegro e discreto que teve forte impacto na minha vida e na de muitos gaiatos. Um homem que há mais de 50 anos, contra a vontade de seu pai, abandonou uma prometedora carreira de engenheiro electrotécnico para se tornar padre e seguir Pai Américo, de quem se tornou discípulo leal e predilecto, denunciando publicamente, em igrejas e salas de espectáculos, as injustiças sociais, a desigualdade e indiferença de muitos, a falta de assistência aos doentes e a promiscuidade de muitas famílias.

Numa sociedade dilacerada pela fome e pela miséria, progenitoras da marginalidade e da delinquência, Padre Carlos seguiu e viveu intensamente a opção franciscana de combate à exclusão social das “crianças e jovens mais desfavorecidos e mais desfigurados na sua dignidade humana, vítimas de tantos atropelos” abdicando há mais de 50 anos uma carreira de Padre Carlos foi um homem generoso e austero que vivendo e lutando por um ideal cristão despoletou na maioria de nós, rapazes da rua, mais afectos que raivas, mesmo quando as nossas divergências pareciam insuperáveis. Foi um acérrimo defensor da pedagogia e da doutrina de Pai Américo respeitando o lema de ‘Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes’. Tal como Pai Américo, procurou ser “um revolucionário pacífico, um pobre que sangra, um pai que chora, um português que ama!"

Padre Carlos manteve a inovadora pedagogia de Pai Américo, alicerçada na auto-educação e na co-responsabilização como caminho seguro para um bom trabalho educativo. Uma pedagogia que tem por base a mais elementar célula social: a família. E de facto, somos uma família – com as virtudes e as fraquezas de qualquer família numerosa.

Contra todas as contrariedades, Padre Carlos dedicou a sua a sua vida à realização do sonho de Pai Américo que tornou seu - “fazer de cada gaiato um Homem!”. Também Padre Carlos foi para mim referência ética de relevo, incutindo neste então pequeno vadio das ruas do Porto, adolescente rebelde, os valores éticos e princípios de vida cada vez mais ignorados – solidariedade, justiça social, liberdade na responsabilidade, entre outros, permitindo transformar este “lixo da rua” em pessoa de bem, que sente orgulho em afirmar que muito do que é o deve ao facto de ter sido "gaiato"!

Nesta hora de tristeza para mim e para muitos gaiatos, mas de alegria para Padre Carlos pois vai poder encontrar-se com o seu Deus e com Pai Américo, quero apenas dizer-lhe que ficará sempre guardado no cantinho mais terno do meu coração, onde resguardo as pessoas que me são mais queridas.

Obrigado, por tudo, Padre Carlos!

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de saber quem escreveu este texto para poder utiliza-lo em homenagem ao propio.

Obra de Nossa Senhora das Candeias

MAS disse...

quem escreveu este texto foi um velho gaiato, amigo de padre carlos e não se opõe a que seja reproduzido.