domingo, 27 de dezembro de 2009

Queda do Muro de Berlim

Durante os primeiros anos da minha adolescência o Muro de Berlim simbolizou a separação de dois regimes político-económicos: o mundo capitalista, gerador de injustiças sociais graves, de que eu era um filho menor, sem casa e sem pão, vivendo num antro miserável; e o mundo socialista, que na minha ingenuidade simbolizava uma sociedade mais justa e mais solidária. Todas as notícias sobre a opressão, a falta de liberdade e a miséria que havia nos países socialistas para mim era propaganda consequente da Guerra Fria, não passando de uma mentira contínua do regime salazarista que manipulava a informação.
Quando em Agosto de 1968, ano de todas as utopias, a URSS invadiu a Checoslováquia começaram a surgir as minhas primeiras interrogações sobre a realidade política, social e económica do mundo socialista. Foi o começo do desmoronar de uma certa utopia comunista. Sem referências, novas utopias foram ressurgindo e novos desenganos políticos.
Sendo de uma geração que acreditava ser capaz de tornar as utopias realidade, que acreditava ser capaz de construir um mundo socialmente mais justo quando, em Novembro de 1989, o Muro de Berlim caiu era já um homem politicamente desencantado, pelo que me limitei a sorrir perante o ruir completo do ícone de um sonho que acalentara durante muitos anos! Tinha já a percepção que éramos governados por cínicos, incompetentes ou corruptos, apostados em tornar global uma sociedade da economia do vale tudo - um viveiro de sacanas, alguns bem barbeados e melhor engravatados – que iam construindo outros pequenos muros da nossa vergonha para defesa dos interesses das classes sociais mais poderosas.
Optimista incorrigível, penso que apesar de tudo a queda do Muro de Berlim resgatou-me a esperança que futuras gerações renovarão as utopias e serão capazes de derrubar o verdadeiro Muro da nossa Vergonha, esse muro das desigualdades sociais até agora inabalável que separa os poucos muito ricos da multidão dos muito pobres, muitos dos quais vão morrendo todos os dias à fome perante a nossa indiferença.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Natal com poesia

NATAL À BEIRA-RIO

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

FALAVAM-ME DE AMOR

Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,

menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinha
se em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.

O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.

Natália Correia

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cimeira de Copenhaga

Cimeira de Copenhaga: que esperar? Muitas expectativas e boas intenções! Resultados insignificantes. Não creio que os países ricos estejam dispostos a reduzir o consumo - ainda que sem necessidade de comprometer o conforto e o bem-estar - para que os países pobres possam proporcionar melhor qualidade de vida aos seus povos. Tendo o países pobres ou em vias de desenvolvimento direito a ter oportunidade de adquirir bens de consumo de primeira necessidade só através da lei dos vasos comunicantes - uns diminuem o consumo para que outros possam aumentar - se poderá encontrar o desejado equilíbrio.
Mas confiemos dando o benefício da dúvida, apesar dos dirigentes políticos merecerem pouca confiança.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Dúvida

"o homem não nasceu para trabalhar mas para criar", disse o mestre Agostinho da Silva. Eu quero acreditar mas olhando para esta organização social que criamos e alimentamos fico cheio de interrogações. Será mesmo verdade?
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Debate Par(a)lamentar

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Debate quinzenal no Parlamento: um NOJO! Como português senti vergonha pela actuação dos líderes políticos sem excepção! O país tem problemas gravíssimos para resolver, como o desemprego, e os deputados fazem um espectáculo degradante. Apesar do lamento, sinto algum conforto já que me ajuda a justificar o meu anarquismo inofensivo. Sempre ouvi dizer que o poder corrompe, mas parece que também estupidifica!

Porque será que a Política, uma arte tão nobre, está entregue a gentinha tão reles? Há excepções, felizmente, mas são tão poucas que é confrangedor ouvir os parlamentares e os governantes! Tenho receio que os bons sejam influenciados pelos medíocres para terem o mesmo tempo de antena!...

Neste mundo global estaremos condenados a ser governados por Cínicos, Incompetentes e Corruptos?

Veremos o que o seremos capazes de fazer pelo futuro!
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