sábado, 26 de dezembro de 2009

Natal com poesia

NATAL À BEIRA-RIO

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira

2 comentários:

Joaquim Santos Silva, "o Plebeu" disse...

Mano Manel,
A "Obra Poética" de David Mourão-Ferreira sempre me acompnahou, quer pelo sertãon moçambicano, quer pela cidade do Porto, pelos cafés, pelos jardins, pelos autocarros.
De tanto a reler, está o livro amarelecido. Todavia, é sempre com renovado interesse que se abre o livro e se percorre a viagem "DO TEMPO AO CORAÇÃO".

Joaquim Santos Silva, "o Plebeu" disse...

Errata:
Onde "acompnahou", é "acompanhou".
Onde "sertãon", é "sertão".